Ponto de fuga
A série fotográfica foi produzida no sítio arqueológico Pukará de Quitor, em San Pedro do Atacama, no Chile, no monumento em homenagem aos 25 chefes do povo Likan Antay, que foram degolados pelos invasores espanhóis, em 1540. O marco representa os Atacamenhos que, ao verem-se desamparados por seu Deus, Aquele que também impulsionava seu inimigo, gritaram em coro: "Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?".
Em uma metáfora poética, a composição da obra foi elaborada sobre dois fenômenos: a religião e o ponto de fuga. Segundo a psicanálise freudiana, a religião tem a sua origem no sentimento de incapacidade do ser humano que, quando se vê confrontado com as potências exteriores, recorre a força emocional, cuja a função é dominar com destreza o que escapa ao controle da razão.
Estruturalmente, as fotos refletem a forma geométrica do quadrado, também associada ao domínio da racionalidade. A beleza é que são arranjadas pelo ponto de fuga. Para muitos, o ponto de fuga é o da perspectiva em que as linhas da imagem, aparentemente, convergem. A fotografia é, pois, uma ilusão artística; os traços do ponto de fuga não tendem ao mesmo ponto e, portanto, nunca se convergem. Assim como a vida e a morte, a religião e a razão.
