Um paraíso fotográfico flutuante
O Porto de Pesca de Setúbal ou o Porto de Pescadores de Setúbal fica na Rua da Saúde, paralela à Avenida Luísa Todi, avenida principal da cidade. Apesar de “rua”, tem uma longa extensão e sensivelmente a meio encontramos o Porto de Pesca de Setúbal.
O edifício do Porto de Setúbal, fica localizado à esquerda, de cor amarela e, logo ao lado a Docapesca; a instituição que gere praticamente todos os grandes portos e lotas de Portugal. A lota, esta palavra portuguesa, galega e castelhana (apesar das suas diferenças fonéticas e morfológicas); provém da palavra leilão. Pois o peixe é quase sempre vendido em leilão em grandes quantidades. Por isso em diversos outros idiomas por esse mundo fora, a palavra utilizada é completamente diferente morfologicamente. A lota de Setúbal é o mercado profissional de peixe e produtos do mar. Que funciona todos os dias das 09h00 às 05h45. Sim, praticamente arround the clock! Menos aos Sábados e Domingos, pois são os dias “que os homens não vão ao mar”; como é popular dizer-se. O horário de recepção e pesagem do produto é feito entre as 09h00 e as 04h00. Mas a altura mais agitada é durante a venda, à noite: entre as 21h00 e as 02h00. Mais ou menos coincidente com a hora que os homens saem para a faina trazendo nova pescaria pela madrugada.
Com o Rio Sado à nossa frente, a Serra da Arrábida ao fundo à direita, e ao longe de frente a Península de Tróia, encontramos aqui um verdadeiro paraíso fotográfico e uma “onda” de cores, da qual é muito difícil afastar o olhar. Seja qual for a hora do dia há sempre algum “concerto silencioso” para admirar e observar. No passeio marítimo, encontramos várias estátuas de golfinhos (representando os famosos golfinhos do Rio Sado), todos decorados de forma diferente. Entre estes golfinhos encontramos bancos de jardim localizados mesmo em frente ao porto, onde podemos sentar-nos a observar a chegada ou saída de embarcações; grupos de pescadores a arrumar as suas redes, ou a fazer alguma reparação nas embarcações.
Mas um dos momentos mais preciosos é quando temos a sorte de podermos ver algum pescador a coser/concertar redes. Sentado no chão… Rodeado de redes, verdadeiros labirintos de redes em pequenos montes; que para nós leigos nos parece completamente impossível de encontrar uma ponta que seja por onde começar. Mas ele sabe a sua arte. Não é difícil reconhecê-los… Por mais castanhos que sejam os olhos, a sua luz brilhante contrasta sempre com a pele escura. São décadas de faina, de experiência e histórias. E isso está muito bem à vista, na pele escura e muito enrugada do sol. O trabalho é muito árduo, mas a vida é simples aqui, e nestes bairros também. Isso traduz-se naturalmente através dos sorrisos simples e humildes. Numa felicidade pura, que hoje em dia é tão difícil de encontrar nas metrópoles tão nervosas.
Os barcos são coloridos e, vemo-los de todos os tipos, desde as mais pequenas embarcações, passando pelas traineiras, até aos barcos maiores; cuja maioria não são de congelamento, mas contudo de longo alcance.
As cores são diversas, e estão relacionadas com credos e ou simplesmente com o gosto do proprietário. Já os nomes têm origens muito similares; relacionados com a cidade, com o rio, com pessoas queridas do coração… mas principalmente com a religião. Homenagens à Virgem Maria, a Deus ou a outras devoções católicas.
Remontando à história, segundo os achados arqueológicos, os primeiros navegadores a chegar a esta região e a estabelecerem-se aqui, foram, na antiguidade pré-clássica os Fenícios. Assim declaramos que foi nesta época que se criou o primeiro porto da actual cidade de Setúbal.
Mais tarde, chegaram os Romanos. E Setúbal tornou-se uma importante cidade industrial e piscatória chamada Cetóbriga (origem da palavra Setúbal). Aqui continuou a existir um porto muito importante completado pelo lado interior da península de Tróia, onde ainda hoje encontramos sítios arqueológicos e ruinas romanas da época. Nos dois lados do rio, a actividade que completava a pesca era a salga de peixe, o fabrico de ânforas em barro para guardar peixe, vinho e “garum”. Sobre este garum chega-nos aos dias de hoje a informação de que era uma espécie de um molho ou paté feito com peixe fermentado e ervas aromáticas; muito utilizado na época em todo o império romano e também na Grécia antiga.
Ainda hoje podemos encontrar ruinas de salgadeiras, no Posto de Turismo da Costa Azul na Travessa Frei Gaspar, nº 10 em Setúbal (Entrada livre para o Posto de Turismo onde podemos ver através de grossas lajes de vidro no chão, as salgadeiras romanas, mesmo por debaixo dos nossos pés).
Durante o Séc. XV, o porto desenvolveu-se e enriqueceu bastante a cidade de Setúbal. Pois naquela época cidades que hoje são muito mais pequenas como Palmela ou Azeitão; necessitavam do acesso ao porto para fazer comércio e comprar e vender produtos. Desta forma, elevados impostos começaram a ser cobrados pela entrada e utilização do porto.
Em plena época da primeira fase dos Descobrimentos Portugueses, a cidade também se desenvolveu, uma vez que foi daqui que partiu em 1458 o Rei D. Afonso V para conquistar Alcácer Ceguer.
Alguns séculos mais tarde temos o primeiro projecto de obras do Porto de Setúbal, no ano de 1793. Uma nova pequena doca e porto de abrigo surgem para dar guarida às embarcações.
É em 1836 que a Câmara Municipal de Setúbal foca a sua atenção e recursos para a construção de uma estruturada doca. Mas será apenas a partir de 1923 que se cria a Junta Autónoma das Obras do Porto, Barra De Setúbal e Rio Sado, que vai focar-se na construção do actual Porto de Setúbal pelas mãos da empresa Dinamarquesa Hojgaard & Schultz em conjunto com a Holandesa Van den Bosch & De Vries.
As obras começaram no dia 28 de Julho de 1930 no mesmo dia em que se inaugurou a instalação de luz eléctrica na cidade. Entre os vários desenvolvimentos e modificações é de relevar o desmantelamento de docas anteriores desactualizadas para a época, a construção de uma nova área terraplena com uma área total de 600.000 m2 e a construção de 3 docas distintas destinadas à área de apoio à pesca, marina de recreio e porto de comércio. Nas décadas seguintes construíram-se os edifícios do Porto de Setúbal e da Docapesca, aproveitando-se também para reabilitar a área circundante, criando passeios marítimos e jardins; para além do melhoramento dos pavimentos e arruamentos, sistema de águas e electricidade.
Por Joana Ramalhinho
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Este texto não foi escrito ao abrigo do novo Acordo Ortográfico
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